Publicado em 14/02/2006Adriano Garcia
Novamente o vírus da Febre Aftosa assombra a América do Sul. Rifles sanitários, embargos e prejuízos. A história é antiga e recorrente. E todas as vezes que ressurge, com ela retornam os debates sobre o que deve ser feito para evitar, enfim, um novo surto. E o assunto desaparece logo que os mercados importadores retomam suas compras e a vida segue novamente. Até o próximo surto.
Onde vamos parar? A moda no momento é apregoar a "cooperação" entre os países da América do Sul, numa pretensa tarefa-monstro de vacinação em massa de animais, visando erradicar "de vez" o vírus do continente. Como se isso fosse uma tarefa viável e como se já não fosse difícil o bastante garantir que todo o plantel brasileiro esteja suficientemente imunizado contra a doença.
Em um país como o Brasil, de tantas prioridades, não é de se esperar para breve um aumento de verbas para a sanidade animal. Já está claro que uma das razões de base para o surgimento dos focos em Mato Grosso do Sul no ano passado foi o corte orçamentário, entre diversos outros fatores, para que a imunização e sua fiscalização fossem executadas de forma minimamente correta.
Resta agora olhar para o futuro. E analisar que talvez o melhor para o setor seja assumir, por conta própria, seu próprio destino. Não é necessário "reinventar a roda", nem partir para experiências inovadoras quando o passado mostra um caminho bem sucedido: o do Fundepec paulista.
Criado na década de 90, o Fundo para o Desenvolvimento da Pecuária para o Estado de São Paulo teve sua origem na necessidade do setor em justamente proporcionar, através de uma cooperação entre os elos da cadeia produtiva, um combate eficiente à Febre Aftosa. Financiado principalmente por pecuaristas e frigoríficos, obteve pleno êxito em sua missão, conseguindo em menos de 5 anos eliminar a doença do estado de São Paulo. Desenvolveu, paralelamente, uma Aliança Mercadológica pioneira, agregando valor à carne bovina, num processo que foi precursor do que hoje faz a ACNB e sua marca "Nelore Natural".
Por que não repetir esta experiência em nível nacional? A Pecuária Bovina nacional é muito forte e, numa junção de interesses entre todos os participantes do setor, poderia muito bem assumir esta tarefa que não está sendo executada pelo setor público e, sabe-se, voltará ao final da fila de prioridades tão logo o presente surto desapareça. Ao invés da tradicional queda de braço, com o criador voltando a pagar o preço, seja pela queda das exportações seja com o sacrifício de animais, um esforço conjunto pelo avanço da sanidade nacional, abrindo novos mercados. Não é algo impossível e já ocorreu em São Paulo.
E a cooperação internacional? É uma meta desejável mas, como já se observa diariamente com o Mercosul, ainda é algo tão distante quanto inviável no curto prazo.
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Adriano Garcia é jornalista e editor do Pecuária.com.br