Publicado em 10/01/2020Os incêndios que assolam a Austrália e que vêm causando grande preocupação por conta de seus efeitos devastadores para o país também estão impactando a bolsa brasileira. E, de acordo com analistas, dois setores no Brasil são afetados: o de proteínas, que foi um dos destaques de alta em 2019 com a alta do preço da carne em meio à gripe suína na China, e o de papel e celulose, este último que não conseguiu brilhar na bolsa em meio à pressão dos preços das commodities.
Apesar de algumas leituras ainda serem preliminares, já é possível traçar cenários para alguns ativos.
No caso das empresas do setor de frigoríficos, a avaliação dos analistas é mista, uma vez que depende de qual é a composição geográfica das operações de cada uma delas. As estimativas da Federação Nacional de Fazendeiros divulgadas pela imprensa australiana indicam que desde setembro uma área de 6,3 milhões de hectares foi queimada, causando a perda de 100 mil cabeças de gado.
Desde o começo desses devastadores incêndios florestais em setembro, cerca de 80.000 quilômetros quadrados se incendiaram em todo o país, uma superfície equivalente à Irlanda ou ao estado da Carolina do Sul.
Segundo informações da Meat & Livestock Australia, 9% do rebanho bovino está localizado em regiões significativamente impactadas por incêndios florestais e outros 11% em regiões parcialmente impactadas. Em relação às ovelhas, 13% do rebanho nacional está em regiões significativamente afetadas por incêndios e outros 17% em regiões parcialmente impactadas.
Conforme destacou Alcides Torres, diretor da Scot Consultoria, em entrevista à Agência Estado, os incêndios poderiam favorecer as exportações brasileiras de carne bovina para alguns países em que a Austrália possui grande participação como exportadora, como é o caso da Indonésia, e também os embarques de gado vivo.
Além disso, conforme apontou Rodrigo Brolo, head de agronegócios da Criteria Investimentos, os australianos são importantes fornecedores de carne bovina para Japão e EUA, países com os quais o Brasil negocia abrir mercado. “Sem dúvida alguma este fator (comprometimento da produção australiana de carne) pode ajudar o Brasil a conquistar esses mercados”, avalia o especialista.
Esse cenário impulsionou algumas ações do setor, como foi o caso da Minerva, que chegou a saltar 4,58% na última terça-feira. Em agosto de 2019, o governo indonésio liberou a importação de carne bovina de dez frigoríficos brasileiros e, na época, a Minerva anunciou que tinha cinco plantas habilitadas a exportar para lá. Ainda no segundo semestre, os primeiros embarques para o país foram feitos. No acumulado da semana, contudo, os ganhos são mais modestos, de cerca de 3%; vale destacar que, no ano passado, os ativos já haviam subido 157%.
A JBS, por sua vez, pode sofrer, mas também se beneficiar com o ocorrido. A companhia também vê suas ações registrarem ganhos, de cerca de 2%, em uma semana negativa para o Ibovespa, sendo que os papéis vêm passando por momentos mais difíceis em termos de desempenho na bolsa por causa da venda da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Participações (BNDESPar) por meio de uma oferta pública de distribuição secundária de ações (“follow on”). Em 2019, os ativos subiram 122%, sendo uma das maiores altas do índice no período.
O Bradesco BBI ressalta que os negócios de carne bovina da JBS na Austrália representam cerca de 8% de sua receita total. Assim, uma redução adicional da oferta de gado no país devido aos incêndios pode levar a custos mais altos do que o estimado (os analistas do banco projetam que cerca de 80% dos custos dos frigoríficos são com gado). Uma análise de sensibilidade feita pelo banco mostra que, para cada aumento de 5% nos custos de gado da JBS na Austrália, a projeção para 2020 do lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda) é reduzida em 3%.
No entanto, esse impacto potencialmente negativo pode ser mitigado por um efeito potencial positivo com: i) aumento dos preços da carne bovina australiana, país que vem se beneficiando do aumento das exportações para a China (pois é capaz de exportar produtos frescos e refrigerados) e ii) acesso maior do Brasil nas exportações (operação de carne bovina no Brasil representa cerca de 15% da receita total) e nos EUA (cerca de 45%) a países como China e outros que importam carne bovina australiana. Com informações do Infomoney.