Publicado em 28/05/2007Adriano Garcia
Editor do Pecuária.com.br
Não há como escapar: nos últimos dias domina o noticiário as informações sobre as muitas ramificações da “Operação Navalha” desencadeada pela Polícia Federal, numa tentativa de desmontar mais um esquema de corrupção envolvendo empreiteiras e obras públicas fantasmas ou inacabadas. É louvável a tentativa dos órgãos de segurança de coibir o desvio das escassas verbas públicas nos Estados e municípios brasileiros. O que não se pode, com isto, é jogar toda classe política numa situação que sirva aos interesses eleitorais do governo.
É espantosa a engenhosidade de Lula no começo de seu segundo mandato. Num primeiro momento - com sua “lenta, gradual e segura” formação de ministério – cooptou boa parte do espaço político. Muitos levados ao Congresso por seus eleitores com a finalidade de fazer oposição, agora são aliados do governo federal. Ao mesmo tempo, como vem fazendo desde a posse em 2003, vem agregando à sua base de sustentação a legião de participantes dos programas sociais , “sem-terra”, estudantes e o topo da pirâmide social, beneficiado pela manutenção dos juros inexplicavelmente altos. A classe média, por ser minoria, permaneceu excluída, a não ser pela recente “Bolsa-Miami”, garantida por um dólar excessivamente baixo.
Agora, com a “Operação Navalha”, vem o golpe final. Como já é sabido, a Justiça brasileira tem extrema dificuldade quando o assunto é punição a políticos flagrados em situações previstas pelo Código Penal. Mesmo assim a operação policial é anunciada com estardalhaço, por atingir políticos tanto da chamada “base aliada” como de oposição. O ex-presidente José Sarney, Renan Calheiros e ACM, os dois primeiros aliados e o último um opositor em flerte público com o presidente, estão entre os atingidos pela operação.
Passou despercebido pela chamada grande imprensa que a operação pode incluir um cálculo político engenhoso: se no caso “mensalão” o presidente não saiu prejudicado pelo noticiário, mesmo quando seus principais assessores e auxiliares diretos foram envolvidos e tiveram que se afastar do governo, o que dirá agora que os políticos afetados nunca foram ligados diretamente ao presidente e cuja imagem política vem de anos atrás? Um resultado interessante para Lula seja justamente este: eliminar da cena atores principais, tanto da atual base governista quanto de sustentação da oposição, restando ele, Lula, como única força perante o eleitorado que, dada à abrangência da operação policial, enterraria toda classe política na vala comum do descrédito.
Daí ao surgimento, por “clamor popular”, de uma emenda permitindo mais uma reeleição, falta muito pouco. Só o tempo dirá se estamos assistindo ao surgimento de “poderes republicanos” no Brasil, que controlam o Estado independentemente de governos, ou à gestação de um novo Hugo Chávez, com parto previsto para 2010.
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